'Não somos folclóricos, somos povos', diz pesquisadora sobre 'fantasia' de indígena no Carnaval
A pesquisadora e professora Patrícia Pankarareeve deixou um alerta: indígena não é fantasia
Seja por causa da popularidade da dançarina manauara Isabelle Nogueira, participante do Big Brother Brasil 24, ou pela beleza das roupas e assessórios dos povos indígenas, quem foi ao Furdunço ou Fuzuê, festas do pré-Carnaval de Salvador, deve ter visto dezenas de ambulantes vendendo assessórios associados à cultura desses grupos, como cocares e saias de palha, por exemplo.
Ao Aratu On, a pesquisadora, professora e vice-presidente do Conselho Estadual dos Direitos dos Povos Indígenas da Bahia (Copiba/Secretaria de Justiça), Patrícia Pankarareeve deixou um alerta: indígena não é fantasia.
"Os acessórios que são utilizados pelos povos indígenas estão longe de ser acessórios carnavalescos. Os nossos adornos, nossas vestes, fazem parte da nossa cultura, da nossa tradição e, principalmente, da nossa ritualidade. Ao colocar um cocar na cabeça, nós temos um ritual de apresentação indígena, ao colocar uma saia de croá ou de qualquer outro material, também".
Em 2020, em uma visita a Salvador, Cacique Raoni, liderança indígena conhecido mundialmente pela luta pela preservação do meio-ambiente e pelos direitos dos povos originários, discordou dessa ideia, já debatida há alguns anos na internet — para ele, usar os assessórios pode ser visto como uma forma de homenagem.
"Acho que é uma troca. Eles se vestem assim porque acham bonito, querem ser como a gente. Não vejo problema". Veja o vídeo:
https://twitter.com/juanacastro/status/1231344795941064704?ref_src=twsrc%5Etfw%7Ctwcamp%5Etweetembed%7Ctwterm%5E1231344795941064704%7Ctwgr%5E301facc884babc43e776639460811a0ecd6a3ce8%7Ctwcon%5Es1_&ref_url=https%3A%2F%2Faratuon.com.br%2Fcultura%2F2020-02-22%2Fvideo-ele-sabe-reconhecer-uma-bela-natureza-diz-ivete-ao-ser-elogiada-pelo-cacique-raoni%2F
Na opinião de Patrícia, porém, se as pessoas entendessem a força e a importância desses elementos para a cultura indígena, não os usariam fora de contexto:
"Eu não vejo nada de fantasia, principalmente carnavalesca, em uma pessoa usar o que nós usamos de sagrado, para estar brincando e bebendo bebidas alcoólicas e, principalmente, se utilizando de elementos que nem sabem a força que tem. Nós não somos folclóricos, nós somos povos. Se as pessoas soubessem a força que uma saia e um cocar têm, não usariam de maneira inadequada".
[caption id="attachment_293111" align="alignnone" width="1024"] Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil[/caption]
E, para concluir, a pesquisadora aponta: se os povos indígenas não usam elementos de outras culturas para brincar, por que usam objetos e vestimentas da cultura originária como fantasia? "Nós somos brasileiros, nós somos indígenas, nós temos o nosso valor, e gostaríamos muito que tudo que a gente use, tudo o que a gente faz, seja respeitado, como nós respeitamos outras culturas, outras tradições e outros povos".
Então, antes de ir para a avenida, a dica é se fazer a seguinte pergunta: isso banaliza ou desrespeita a cultura, etnia, profissão ou religião de alguém? Sim? Então, procure outra!
O QUE NÃO É FANTASIA:
- Indígena;
- Pessoas pretas;
- Asiáticos;
- Orixás;
- Elementos relacionados a quaisquer religiões;
- Enfermeira ou empregada doméstica "sexy";
- Pessoas escravizadas.
O QUE É FANTASIA:
- Personagens de filmes, novelas ou séries. Exemplo: Barbie, Arlequina, Ariel, Sininho, Peter Pan, Stranger Things, Game of Thrones, Harry Potter, super-heróis, e muito mais;
- Frases de participantes do BBB ou objetos relacionados a eles. Exemplo: "Calma, calabreso!"; alinhador de chakras de Yasmin Brunet;
- Cantores ou cantoras;
- Sereia;
- Bruxa;
- Fada;
- Pirata;
- Personagens históricos;
- Memes da internet;
- Personagens de livros.
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