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Casal que filmava prática de sexo com as próprias filhas menores em Salvador vai a júri popular; uma das meninas abortou

Analice de Jesus dos Santos e o marido dela, Jacson Santos Pereira, foram presos após reportagem do Aratu On denunciar o caso, em 2020.

Por Jean Mendes

Casal que filmava prática de sexo com as próprias filhas menores em Salvador vai a júri popular; uma das meninas abortouarquivo pessoal

Analice de Jesus dos Santos e o marido dela, Jacson Santos Pereira, vão a júri popular, segundo decisão publicada no Portal do Tribunal de Justiça da Bahia. O casal é acusado de estuprar e filmar os abusos sexuais cometidos contra as próprias filhas no bairro do Lobato, Subúrbio Ferroviário de Salvador.


A situação foi denunciada há pouco mais de um ano, por reportagem do Aratu On. Na última quinta-feira (25/11), exatamente um ano depois da prisão, a Justiça confirmou a data do julgamento e manteve a prisão preventiva de Jacson. A esposa dele está em prisão domiciliar por conta de uma gestação recente e essa situação também foi mantida. O júri popular acontecerá no dia 4 de abril de 2022, às 8h, em local ainda não informado.  


Na justificativa para manter os dois presos, o Tribunal de Justiça da Bahia confirmou todos os fatos narrados pelas vítimas - Carol*, e a meia-irmã, Amanda* - à reportagem. Antes de serem localizados, ambos estavam escondidos no município de Itaberaba, a 264 km de Salvador. Eles foram reconhecidos após a matéria ser exibida pelo Grupo Aratu


"A conduta praticada pelos denunciados se encaixa em uma cadeia de acontecimentos subsequentes que se iniciou com os atos libidinosos, praticados em face da menor enquanto esta possuia oito anos, vez que era forçada a fazer sexo oral com o seu padrasto - o denunciado Jacson; se desenvolveu com o início da prática de conjunção carnal quando esta tinha 13 anos, bem como, quando a vítima, sua genitora e a filha do primeiro acusado satisfaziam a lascívia deste, ao se beijarem mutuamente [...]", relata um trecho. 


"Por fim, permaneceu e se exauriu quando da prática de sexo vaginal quando a vítima contava com 15 anos, configurando a prática do crime previsto no art. 215 do CP e aborto provocado pelos denunciados", complementa. 


CASO


Os crimes aconteciam na casa onde a família morava, no bairro do Lobato. Amanda*, que hoje tem 17 anos, voltou a viver com a mãe há cerca de dois anos, mas não conseguia denunciar os abusos cometido pelo próprio pai. "Eu tenho um namorado e não conseguia ter relações com ele, porque eu me sentia estranha. Ele perguntava e eu tinha medo de contar. Um dia, eu falei. Ele me prometeu que não iria contar pra ninguém, mas quando soube do ocorrido, me incentivou a contar pra minha mãe e procurar a polícia", relatou a filha de Jacson Santos Pereira.


A mãe dela, Girlene da Anunciação de Jesus, foi quem denunciou à polícia e contou ao pai de Carol* o que acontecia. A meio-irmã não sabia, mas a mais nova continuava sendo abusada pelo padrasto e pela mãe, tendo sofrido um aborto no começo de 2019. 



Ao tomar conhecimento do crime, o gari Alessandro Pereira Santos trouxe a filha para morar com ele. "Eu perdi o chão [quando recebeu a notícia], sendo sincero. Você criar filho para marginal fazer o que bem quiser e achar que vai ficar por isso mesmo, não vai ficar. A mãe dela fez isso e não vai ficar assim", desabafou o pai.



As meninas contam, em detalhes, como tudo aconteceu. "Na primeira vez, ele disse que iria me ensinar como fazia e mandou a minha irmã mais nova fazer sexo oral nele. Depois, disse que era minha vez, mas eu não entendi", lembrou Amanda.  


O acusado lhe dava presentes, como celulares caros, e ela não entendia o que acontecia. "Eu sentia amor de pai por ele. Hoje em dia, isso dói demais em mim e me arrependo de ter desobedecido minha mãe, porque eu sentia muito amor por meu pai. Depois que perdi a virgindade com ele [Jacson], foi à minha casa, disse que eu tinha me ‘perdido’ com um menino, só que era mentira. Minha mãe disse que não tinha visto nenhum namorado meu. Eu me sentia triste demais. Quase entro em depressão", contou.


Apenas quando fez 15 anos teve coragem de voltar para a casa da mãe, apesar das ameaças que sofria. Ela conta que sua mãe adotiva, Analice, dizia que coisas ruins aconteceriam com Jackson caso ela contasse para alguém, o que fez com que ela tentasse apagar as memórias e evitar o assunto.


Carol, inclusive, já havia tentando suicídio. O pai biológico dela, Alessandro, conta que ficou assustado e perguntou várias vezes a filha o que a levara a tomar veneno, mas ela desconversava e dizia sentir ciúmes dele, por ter outro filho. "Me relacionei com minha mãe, minha irmã e com Jacson ao mesmo tempo. Todo mundo junto", lembrou ela, na oportunidade. 


Foi Carol, também, que engravidou do padrasto. "É estranho. Eu vinha enjoando, enjoando e minha mãe comprou um teste. Me levou para fazer um ultrassom e o bebê tinha dois meses. Ele comprou uma 'garrafada' e não resolveu. Depois de uma semana, ele comprou remédios para aborto. Colocou seis em mim. Depois, o feto desceu já grande", contou.


* Carol e Amanda são nomes fictícios para não expor as vítimas;

* Todas as pessoas que aparecem na reportagem autorizaram a utilização de suas imagens.


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