Família da fonoaudióloga acusada de tentar raptar crianças em Salvador diz que ela se recusa a fazer tratamento
Na semana passada, a história de uma fonoaudióloga que, de acordo com famílias, tenta sequestrar crianças, ganhou força em Salvador. O comerciante Felipe Caetano, avô de uma das possíveis vítimas, fez um relato que viralizou nas redes sociais e chamou a atenção da Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra a Criança e o Adolescente (Dercca), que começou a investigar o caso.
Após prestar depoimento na Dercca na última quinta-feira (15/9), a profissional da saúde foi encaminhada para o 5º Centro de Saúde para ter a saúde mental avaliada. Depois, a mulher foi para o Hospital Psiquiátrico Juliano Moreira.
Porém, a namorada da investigada foi ao hospital, assinou um termo de responsabilidade e a retirou da unidade. No manhã desta segunda-feira (19/9), ela também foi ouvida pela delegada Simone Moutinho, da Dercca.
"De fato, tanto a namorada, quanto a mãe da suspeita foram ouvidas. Elas afirmaram que, após a pandemia, durante o isolamento social, juntamente com perda de emprego, falecimento do pai em um acidente, bem como a perda de um animal de estimação, a suspeita começou a apresentar um quadro depressivo. A família disse que chegou a contactar psicólogos, psiquiatras, mas que ela se negou a qualquer tratamento médico".
De acordo com informações da delegada, namorada da suspeita, que reatou o relacionamento com ela há cerca de um mês, se "apiedou" quando ela foi internada no Hospital Juliano Moreira, e resolveu assumir a responsabilidade.
Quando a mulher saiu da unidade hospitalar, a recomendação médica foi de que ela continuasse o tratamento ambulatorial. Mas, de acordo com a família, ela não está seguindo a recomendação:
"Ela não tem honrado esse tratamento ambulatorial, e a família está no sentido de levá-la para uma assistência psiquiátrica e, se for recomendação médica, interná-la".
Quando a fonoaudióloga perdeu o emprego, de acordo com o depoimento da mãe dela à polícia, ela começou a apresentar sintomas de ansiedade, e disse que iria começar a procurar crianças para fazer atividades recreativas.
ENTENDA O CASO
O caso da fonoaudióloga tomou força após o comerciante Felipe Caetano, avô de uma das possíveis vítimas, fazer um relato nas redes sociais contando sobre a forma como a profissional de saúde abordou o neto dele.
Ao repórter Gabriel Nascimento, do Cidade Aratu, ele contou que a abordagem da mulher foi gentil: "A gente, em função disso, deixa o campo um pouco aberto. À medida que ela brincou comigo, brincou com a minha filha e começou a brincar com o meu neto, a gente foi ficando mais atento. Ela foi brincando, chamando meu neto para correr, meu neto foi correndo... e ela foi se distanciando".
A família estava no Porto da Barra, que estava cheio. "Eu falei para a minha filha: 'Não estou gostando disso'. Vigiei eles com os olhos até eles sumirem, aí, parti para correr atrás. Pedi para o meu neto parar. Ele, muito obediente, parou e ela tentou puxar mais uma vez. Falei: 'Parou a brincadeira, acabou'. E consegui trazer o meu neto de volta".
Após Felipe divulgar o desabafo nas redes sociais, cerca de 15 famílias contaram que passaram por situações parecidas com a mesma mulher. Após a história viralizar, familiares da fonoaudióloga ligaram para o comerciante e disseram que ela teria problemas mentais:
"Foram me pedindo condolências, tanto é que fiz outro vídeo pedindo para as pessoas se acalmarem. Ela é uma pessoa que não precisa de prisão, precisa de hospital. Ela não precisa de polícia, precisa de médico. Nada justifica o que ela fez. Se eu não fosse uma pessoa ligeira, fosse um idoso, a criança ficaria perdida. A gente soube que ela não quer sequestrar, mas, fica o alerta. Ela precisa ser avaliada e ser detida? Eu creio que sim".
Na final da manhã de quinta-feira (15/9), a profissional de saúde prestou depoimento na Dercca, mas saiu em liberdade. Existem outros boletins de ocorrência contra a mulher, além de vários relatos de famílias que já tiveram crianças abordados por ela.
Segundo a titular da unidade, Simone Moutinho, ainda não se sabe se a suspeita tem alguma doença mental. À delegada, a fonoaudióloga disse que a intenção era apenas interagir e brincar com as crianças, e não sequestrá-las.
"Ficou bem claro que é uma pessoa que tinha um discurso em desalinho, confuso. Ela afirmou que, efetivamente, abordava crianças, mas que ela queria alegrar, fazer um momento de recreação com essas crianças, porque elas, durante a pandemia, sofreram bastante com o isolamento social", relatou a delegada.
O Conselho Regional de Fonoaudiologia enviou uma nota à reportagem da TV Aratu informando que já recebeu denúncias sobre a conduta profissional da mulher anteriormente, e que os relatos foram enviados a uma comissão responsável por apurar o caso.
OUTROS RELATOS
Luane Datoli, mãe de um menino de 6 anos, contou para a TV Aratu que ela, o marido e o filho foram abordados por ela na Praia do Buracão, no Rio Vermelho, em janeiro deste ano. De acordo com Luane, após a mulher forçar uma aproximação com a família, ela precisou intervir e pedir para ela se afastar:
"Ela se apresentou como fonoaudióloga e deu outro nome, e disse que tinha um projeto com crianças autistas. Ela, na praia, começou a abordar outras crianças. Eu e outras mães percebemos que eram sempre crianças brancas e meninos. Inclusive, tinha uma criança que não aparentava ser brasileira, e ela ficou vidrada".
De acordo com apuração do Aratu On, um Boletim de Ocorrência contra a profissional da saúde foi registrado pela mãe de uma das vítimas em 2021. Segundo o relato da mãe da vítima à época, um menino de 12 anos, a fonoaudióloga teria convidado a criança, de forma insistente, a acompanhá-la em um passeio. Mesmo após o menino recusar, ela continuou insistindo, deixando a criança assustada. Depois das recusas, a mulher teria dito á vítima que iria procurar outras crianças.
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