Wagner Moura diz que dificilmente interpretaria Bolsonaro; "para amigos e família, ele não é um monstro"
Para ele, representar o papel seria um desafio. “Seria difícil porque as pessoas são complexas. Eu tenho certeza que, para os amigos de Bolsonaro e para a família dele, ele não é um monstro", analisa
O ator Wagner Moura, diretor do filme “Marighella”, concedeu entrevista exclusiva ao Linha de Frente, do Grupo Aratu. Ao jornalista Pablo Reis, ele revelou que seria “muito difícil” interpretar algum papel sendo o presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
“Eu acho muito difícil, porque eu estou muito envolvido com tudo hoje, mas seria um exercício muito bonito por que gente está vivendo este momento de polarização de bolhas, que, mesmo que a gente precise rompê-las, tenho muita dificuldade”, explica. "Quando o MBL chamou um monte de gente para a rua protestar contra Bolsonaro, eu pensei: 'nós precisamos nos unir contra Bolsonaro'. Mas eu não teria coragem de sair à rua com o MBL, por exemplo, que eu não considero uma direita democrática”, acrescenta.
Para ele, representar o papel seria um desafio. “Representar Bolsonaro seria difícil porque as pessoas são complexas. Eu tenho certeza que, para os amigos de Bolsonaro e para a família dele, ele não é um monstro, mas um produto de coisas da vida dele que o transformaram naquilo”, analisa.
Em momentos da entrevista, ele critica o chefe de Estado. Para o ator, o atual Governo Federal é responsável por dilapidar a cultura do país, relembrando que o filme do qual é diretor deveria ter sido lançado em 2019. Para ele, o longa sofreu com censura da gestão Bolsonaro.
“Eu não tenho o menor problema em dizer que meu filme não estreou em 2019 porque foi censurado. Os pedidos que a O2 [Filmes] fez na Ancine foram simplesmente normais, naturais, comuns, feitos por qualquer produtora. Foram negados numa época que Bolsonaro falava abertamente sobre filtragem na Ancine. Falou que o filme de Bruna Surfistinha não podia ter”, lamenta.
“Não foi só Marighella. Era uma época em que a cultura brasileira, que sempre foi odiada por essa gente que está no poder, começou a sofrer ataques contínuos. Olha o estado da cultura no Brasil. Quem toma conta? Não existe. Acabou. O cinema brasileiro independente acabou. Foi destruído”, emenda.
Jornalista graduado pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (Facom/UFBa), onde estudou com o ex-deputado Jean Wyllys, ele crê que o jornalismo é fundamental no papel de preservar a democracia no Brasil.
“A arte está sendo atacada, a cultura, os artistas, a democracia como um todo. E o jornalismo livre é um pilar da democracia. Eu tenho discordâncias com o Supremo, mas não quero que o Supremo feche. O exercício da democracia é trabalhar para que as instituições melhorem”, pontua.
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