Dia da Mulher Negra: 'Maioria da extrema pobreza é de mulheres negras', diz secretária baiana da Igualdade Racial
Aratu On entrevistou Ângela Guimarães para o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha
Dados divulgados pelo IBGE em 2018 mostram que 63% dos lares no Brasil são chefiados por mulheres negras que vivem abaixo da linha da pobreza. Também por isso, ter um olhar específico e pensar políticas públicas para mudar essas estatísticas, de uma forma transversal, é o que defende a titular da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi), Ângela Guimarães.
Nesta terça-feira (25/7), Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, Aratu On traz uma entrevista com a secretária, que falou, entre outros assuntos, sobre ações em prol da população negra nas áreas da educação, cultura e saúde.
CONFIRA ABAIXO
https://youtu.be/XFA7saSQblU
Aratu On (AON): Quais ações e políticas públicas estão sendo realizadas no estado em prol das próximas gerações de meninas negras?
Secretária Ângela Guimarães (AG):
Nós acabamos de lançar na quarta-feira passada [19 de julho] a Agenda Bahia de Promoção da Igualdade Racial, exatamente com um conjunto de ações pensadas para atingir a população negra como um todo, mas sobretudo nas ações que revelam o compromisso do governo do estado da Bahia com a inclusão de mulheres negras no desenvolvimento socioeconômico. A gente teve um cuidado em um prisma específico.
Dentre essas ações, lançamos um edital da educação, em parceria com a Sepromi, que premia boas práticas na educação antirracista e a gente sabe que a escola é um lugar que tem uma maioria de professoras mulheres e também de meninas sendo educadas. Então, experiências de práticas antirracistas na educação vão ser premiadas nesse edital de R$ 6 milhões de reais. Também lançamos uma série de investimentos na política de fomento ao empreendedorismo negro e de mulheres, como o Crediafro, no valor de R$ 10 milhões, para que empreendedoras negras e empreendedores negros possam acessar essa linha de crédito para poder desenvolver e expandir os seus empreendimentos.
Ao lado disso, lançamos, também, um edital de fomento a iniciativas da sociedade civil no empreendedorismo negro e também um edital de circulação de feiras do empreendedorismo negro no estado. E eu digo isso porque a maioria de quem empreende no nosso estado da Bahia são mulheres negras. São aquelas que ou perderam seus empregos ou nunca conseguiram acessar o mercado de trabalho formal, então fazem da sua luta para sobrevivência também um fomento à economia - muitas vezes, até, incorporando outras pessoas da família e de fora gerando oportunidade de trabalho, geração de renda pra sua comunidade.
Nós sabemos que, dentro dos números de quem está na extrema pobreza, a maioria é de mulheres negras. Então, ações que venham incluir e potencializar esse negócios vão na direção da diminuição das desigualdades sóciorraciais e de gênero do nosso estado.
AON: Você fala na questão da transversalidade da Sepromi? Como isso de dá na prática?
AG: Isso se dá no diálogo que nós mantemos de forma continuada com todas as outras 25 secretarias do estado, porque a população negra e os povos e comunidades tradicionais tem necessidades desde o acesso à água, o acesso aos sumos para produção da agricultura familiar, até o emprego formal, então todas as áreas da educação, saúde, cultura, desenvolvimento urbano. A população negra é atravessada por todas essas áreas.
Então, na prática, a transversalidade se dá por um conjunto de ações que estão em curso, a exemplo de um edital lançado recentemente para construção de 80 unidades habitacionais no Quilombo Rio dos Macacos. A Sepromi não tem essa essa missão institucional de construção e realização de obra, então a gente parceriza com a Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), por meio da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (Car). Aí esse projeto da construção de unidades habitacionais em meio rural é materializado, assim como com a Secretaria de Infraestrutura (Seinfra), na construção, com estradas de acesso ao quilombo, a outras outros territórios indígenas e a outras comunidades quilombolas, também.
Com a educação, como falei, a gente tem o edital; com a Saúde, mantemos o Centro de Referência de Atenção às Pessoas com Doenças Falciformes, aqui em Salvador, que é um centro é de referência no cuidado, pesquisa e ensino voltados às doenças prevalentes na população negra.
Também mantemos relação com a Cultura (Secult), como no programa Ouro Negro, que acabou de dizer alvo também de um Grupo de Trablho (GT), que vai pensar a sua reformulação estendendo suas ações para além do Carnaval, como a gente já tem o financiamento das agremiações e entidades carnavalescas de índio, afro, de samba, da capoeira, do reggae e do samba.
A gente atua compreendendo a multidimensionalidade das demandas desse segmento majoritário da população, que ao longo do nosso histórico de desenvolvimento foi sendo invisibilizado, ficando para trás, então agora estamos puxando pra frente, para poder pensar numa nova condição de vida digna para as próximas gerações.
AON: Quais são os sofrimentos específicos de mulheres negras, que unem demandas feministas e do movimento negro?
AG: O feminismo negro foi exatamente o que assegurou a construção dessa data, 25 de julho, como o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha. Justamente para dar visibilidade as demandas específicas desse grupo populacional atravessado pelas desigualdades sociais, raciais e de gênero. A a situação de vida das mulheres negras exige do estado uma série de medidas medidas voltadas ao enfrentamento à pobreza. Quando o governo da Bahia lança o programa "Bahia sem Fome", ele sabe que no extrato mais pobre da população estão lá as mulheres negras, chefas de família, então elas têm atendimento prioritário. São nos lares chefiados pelas mulheres negras onde os indicadores de pobreza são mais dráticos e mais dramáticos, então quando a gente lança uma política do empreendedorismo negro a gente está olhando pra essa mulher negra que sobrevive do empreendedorismo.
Quando a gente lança também o desafio para que todas as universidades públicas tenham programas de permanência, a gente tá olhando para a vida daquela menina negra, jovem negra, mulher negra, que entra na universidade e que, sem apoio de bolsas de apoio e/ou bolsas de permanência não vai conseguir continuar na universidade. Quando a gente dialoga com a Secretaria de Ciência e Tecnologia para o lançamento de mais uma edição do programa de meninas e mulheres na ciência, a gente está dizendo que tem que ter um olhar específico, atender, com essa edição, mulheres negras, quilombolas e indígenas, porque o ambiente da pesquisa e da inovação científica e tecnológica ainda é distante para essas meninas que ficam sempre ali lutando para não recair nas condições de extrema pobreza.
É preciso ter política afirmativa e é preciso ter condições de permanência para que, de fato, a inclusão seja real e concreta nessas estratégias de desenvolvimento do nosso estado e do nosso país.
*Essa entrevista faz parte do Especial do Aratu On sobre o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, que também ouviu a promotora de Justiça Lívia Vaz e a educadora e escritora Bárbara Carine.
CONFIRA A REPORTAGEM DA TV ARATU
https://www.youtube.com/watch?v=R_naqzTkS5U
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