Política

PF apura atuação de ex-ministro de Bolsonaro para intervir em fluxo de eleitores na Bahia no 2º turno da eleição

A presença de Torres na Bahia causou estranheza nos investigadores, que classificaram a viagem como uma pressão do governo Bolsonaro à superintendência regional para favorecer o então presidente Bolsonaro

Por Matheus Caldas

PF apura atuação de ex-ministro de Bolsonaro para intervir em fluxo de eleitores na Bahia no 2º turno da eleiçãoMarcos Corrêa/PR
A Polícia Federal investiga uma viagem do ex-ministro da Justiça Anderson Torres à Bahia, ocorrida às vésperas do segundo turno das eleições presidenciais de 2022. Segundo o Blog da Andréia Sadi, do portal G1, o ex-ministro do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi até o estado sob o pretexto de reforçar o contingente da Polícia Federal (PF) contra supostos crimes eleitorais, como a compra de votos.
Na ocasião, Torres teria pedido pessoalmente à superintendência da PF da Bahia que atuasse em conjunto com a Polícia Rodoviária Federal (PRF) para fiscalizar as rodovias. No entanto, investigadores ouvidos pelo blog afirmam que a ação tinha o objetivo de interromper o fluxo de eleitores na região para prejudicar a eleição do então candidato do Partido dos Trabalhadores (PT), Luiz Inácio Lula da Silva.
A Bahia é um dos estados onde Lula tem maior votação, tendo conquistado 69,7% dos votos no primeiro turno das eleições, enquanto Jair Bolsonaro teve 24,3%. No segundo turno, pouco mais de 2 milhões de votos garantiram a vitória de Lula.
A presença de Torres na Bahia causou estranheza nos investigadores, que classificaram a viagem como uma pressão do governo Bolsonaro à superintendência regional para favorecer o então presidente da República com o uso da máquina pública. Enquanto a PF é responsável por investigações, a PRF atua na fiscalização de rodovias.
Segundo investigadores da PF, o ministro da Justiça na época pressionou para que a PF atuasse como a PRF, que era comandada por um indicado da família Bolsonaro, Silvinei Vasques. Vasques está na mira da Justiça por sua atuação nas eleições.
De acordo com o Blog da Andréia Sadi, Torres foi escalado por Bolsonaro para colocar em prática no Nordeste, região majoritariamente pró-Lula, o plano da campanha bolsonarista envolvendo o uso político da Polícia Rodoviária Federal no dia 30 de outubro, segundo turno da eleição. Nesse dia, a PRF realizou múltiplas blitze e parou veículos que transportavam eleitores em todo o país. A maioria das operações aconteceu em estados do Nordeste.
Anderson Torres, um dos principais aliados de Bolsonaro, tinha conhecimento do mapa feito pela campanha de Lula, que apontava as regiões do país onde o candidato era mais forte. A viagem de Torres à Bahia foi vista com estranheza por integrantes da Polícia Federal, já que ele foi acompanhado pelo então diretor-geral da PF, Marcio Nunes.
Segundo o blog, Torres foi à Bahia sem agenda prévia ou pauta marcada junto à superintendência da PF local. Quando chegou a Salvador, foi um dia após ter atuado em outro episódio polêmico – o caso de Roberto Jefferson, que recebeu a tiros agentes da PF que foram prendê-lo, no interior do RJ.
Na Bahia, Torres se reuniu com o então superintendente da PRF no estado, Leandro Almada. Ele teria pedido que a PF atuasse nas ruas com a PRF no dia do segundo turno, para reforçar a operação e coibir eventuais crimes eleitorais. Depois do encontro, a equipe do ex-ministro encaminhou um documento com uma lista de cidades em que o efetivo policial deveria ser reforçado – em cidades, por exemplo, em que Lula havia sido o candidato mais votado no primeiro turno.
Segundo o colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, o documento foi elaborado pela delegada Marília Ferreira Alencar, que na época atuava no Ministério da Justiça e, posteriormente, foi trabalhar com Anderson Torres na Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal. Alencar é investigada pela PF, por suspeita de ter agido para esconder provas relacionadas aos atos antidemocráticos de 8 de janeiro.
A ida de Torres à Bahia aconteceu logo após o ex-deputado Roberto Jefferson desrespeitar ordem de prisão e atacar policiais federais que foram detê-lo. Naquele dia, 23 de outubro, Torres foi escalado por Bolsonaro para ir a Comendador Levy Gasparian (RJ), onde Jefferson estava, acompanhar o caso. Entretanto, como publicou o blog na ocasião, o ex-ministro recuou da decisão e não foi ao local, por receio de ser acusado de prevaricação por impedir ou atrasar o cumprimento do mandado de prisão de Jefferson.
Apesar da orientação, a superintendência da PF na Bahia ignorou Torres e Marcio. As ordens não passavam de mais uma tentativa de interferência política na PF- o que foi blindado por Almada e a equipe que ele comandava na Bahia.
O blog não conseguiu contato com as defesas de Andreson Torres e Márcio Nunes.
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