Saúde

Governo Bolsonaro descartou quase 1 milhão de canetas de insulina avaliadas em R$ 15 milhões

Produtos venceram a partir de setembro de 2020, mesmo após alertas de médicos e pacientes

Por Matheus Caldas

Governo Bolsonaro descartou quase 1 milhão de canetas de insulina avaliadas em R$ 15 milhõesBreno Esaki / Agência Saúde
O Ministério da Saúde descartou 999,7 mil canetas de insulina de ação rápida durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que perderam a validade entre setembro de 2020 e junho de 2021, avaliadas em quase R$ 15 milhões. Esses produtos foram parte de uma compra de 4 milhões de tubetes feita em 2018. Além disso, dados divulgados pela Folha de S.Paulo revelam que foram descartados 39 milhões de imunizantes contra a Covid-19 até o final de fevereiro, avaliados em R$ 2 bilhões.
Outros produtos como terapias de alto custo, remédios para pessoas vivendo com HIV/Aids e outros medicamentos também foram perdidos durante a gestão Bolsonaro. Associações médicas e de pacientes alertaram o Ministério da Saúde antes do fim da validade dos produtos, que havia excesso de burocracia para ter acesso ao produto.
O presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes, Levimar Araújo, afirmou que seria correto liberar a insulina ao paciente por meio de uma receita mais simples, já que atualmente o paciente precisa ser atendido por um endocrinologista que preencha um extenso relatório. Ele ainda aponta como barreira a exigência de pacientes renovarem a receita para pegar novos tubetes.
"Às vezes o médico precisa preencher um documento de seis folhas. Fiz medicina para examinar os pacientes, não para isso", afirmou.
O Tribunal de Contas da União (TCU) abriu uma tomada de contas especial para avaliar responsabilidades sobre a má gestão de estoques da Saúde, e apontou que as perdas de insulinas foram associadas às deficiências no planejamento da contratação.
Apenas a incineração das canetas de insulina vencidas custou R$ 64 mil. O ministério ainda incinerou outros tipos de insulina, bomba de infusão e agulhas usadas na caneta, porém, em quantidades menores, avaliadas em R$ 13 mil.
Segundo o médico Levimar Araújo, a insulina de ação rápida ajuda a reduzir episódios de hipoglicemia. Sem o produto, quem convive com a diabetes tem maior chance de cegueira, amputações, entre outras complicações da doença.
Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que o cenário de perda de vacinas, medicamentos e outros insumos "reflete o descaso do governo anterior, que negou à equipe de transição informações sobre estoques e validade desses produtos." A pasta afirma que trabalha para adequar estoques e melhorar a distribuição dos produtos.
Questionado sobre as perdas, o ex-ministro Marcelo Queiroga afirmou que não tem dados sobre estoques e que essas informações ficam sob cuidado das áreas técnicas. O ex-ministro Luiz Henrique Mandetta disse que, durante sua gestão, houve esforços para adequar a gestão dos estoques, transferindo os produtos de armazéns no Rio de Janeiro para uma central em Guarulhos, na Grande São Paulo. O atual deputado federal Eduardo Pazuello, que também foi ministro da Saúde no governo Bolsonaro, não se manifestou sobre o assunto.
ESTOQUES PERDIDOS DO SUS
Produtos descartados a partir de 2019
Vacinas para Covid-19: 39 milhões de doses/ R$ 2 bilhões
Outras vacinas: 7,4 milhões de frascos*/R$ 128 milhões
Caneta de insulina: 1 milhão de unidades/R$ 15 milhões
Terapias de doenças raras: ao menos 12 tipos/ R$ 13 milhões
Outros insumos: cerca de 96 milhões
Total perdido: cerca de R$ 2,2 bilhões
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