Saúde

O Bem Transforma: hospital Martagão Gesteira é premiado por promoção do direito à vida de crianças

Martagão Gesteira oferece tratamento caro e de qualidade para publico que não tem como pagar por atendimento

Por Mateus Xavier

O Bem Transforma: hospital Martagão Gesteira é premiado por promoção do direito à vida de criançasDivulgação/Martagão Gesteira

O Hospital Martagão Gesteira, referência no tratamento para crianças em situação de vulnerabilidade social, foi premiado pelo projeto "O Bem Transforma", iniciativa da TV Aratu em parceria com o Sebrae. A premiação visa destacar os projetos e iniciativas que transformam a sociedade baiana. Em entrevista ao Aratu On, o médico Carlos Emanuel Melo, superintendente da Liga Álvaro Bahia, mantenedora da unidade de tratamento, descreveu como enxerga o hospital.


"O Martagão Gesteira funciona como um paradoxo", definiu Carlos. A contradição apontada pelo médico está na oferta de um tratamento médico de alta tecnologia e de custo alto para uma parcela da população que não tem como arcar por ele. "Como podemos fazer algo sem ter condições de pagar? O Martagão não desiste pela falta de recurso, ele identifica as lacunas do serviço público e busca as soluções", destacou o superintendente.


É nesse paradoxo que também está a principal dificuldade da unidade de saúde. Segundo Carlos, o Martagão tem como base da receita o financiamento do estado, mas, nem sempre o dinheiro é suficiente, devido à alta demanda de procedimentos, pedidos de regulação e o valor elevado de solicitações atendidas pela unidade. Por exemplo, os transplantes de medula óssea para crianças.


O transplante, na Bahia, não era feito até o início da atuação do Martagão nos procedimentos. Com isso, muitas crianças eram desacompanhadas nos hospitais devido à ausência do tratamento no SUS. "Custa R$ 84 mil para ser feito, o SUS apenas financia até R$ 32 mil, como podemos fazer para 'arranjar' os R$ 52 mil que faltam? Qual empresa vai arcar com esse custo?", questionou o médico.


SOLUÇÕES


Segundo o superintendente, as dificuldades são solucionadas junto ao time do Martagão, a sociedade civil e os parceiros conquistados ao longo dos anos de atuação. Entre eles, o instituto Ronald Mcdonalds, que através da campanha "McDia Feliz", viabiliza toda a renda arrecadada com a venda de sanduíches Big Macs nos restaurantes McDonald’s de Salvador e região para ajudar na continuidade dos transplantes de medula.



"Funciona assim, temos uma conta para onde vai o dinheiro das vendas. Quando vamos dar início ao procedimento, apresentamos o financiamento disponibilizado pelo governo, mostramos o prejuízo que teríamos e o arrecadado completa a conta", detalhou Carlos, adicionando que, até o momento, cerca de 20 crianças já foram salvas pelo procedimento.


https://youtu.be/yNhjjkeVy-w

HISTÓRIA 


A iniciativa de fundar um hospital com leitos para o tratamento pediátrico, surgiu da iniciativa dos médicos Joaquim Martagão Gesteira, Álvaro Bahia e França Rocha, junto com outros colegas de profissão. Em 1923, segundo dados do Martagão, quatro em cada dez crianças morriam antes do primeiro ano de vida. Essa alta mortalidade infantil chamou a atenção dos médicos.


Com isso, surge a ideia de fundar uma liga com diversas iniciativas e projetos, visando diminuir essa estatística, como a criação de um banco de leite materno e a criação de turmas para mães de primeira viagem.


Na década de 30, o jornalista Assis Chateaubriand, passando pela Bahia, conheceu o trabalho pediátrico dos médicos e, na então capital do Brasil, Rio de Janeiro, falou com o presidente Getúlio Vargas, à época na liderança do país.


A convite do chefe do executivo, Joaquim Martagão foi levado até a cidade carioca, onde fundou o primeiro Instituto de Atenção a Criança, órgão nacional direcionado a saúde da criança.


Da esquerda para direita. (Álvaro Bahia. Álvaro França Rocha, Juracy Magalhães e Joaquim Martagão Gesteira ao fim do grupo

Álvaro Bahia continuou em Salvador e, em 1945, ele e os demais médicos envolvidos, entenderam que o estado precisava de leitos dedicados a pediatria. Assim, deu-se início a saga para construir o hospital. Álvaro levou 19 anos para finalizar a obra, feita com mobilização da sociedade baiana.


"De feirantes a banqueiros, todos fizeram dações. Em 1964 ele passa a funcionar, lamentavelmente Álvaro Bahia não viu o seu hospital em funcionamento, morrendo antes da abertura", detalhou o coordenador geral que leva o nome do médico como homenagem.


MARTAGÃO EM PRÁTICA 


Para o doutor Carlos Emanuel, uma das histórias que mais lhe marcou atendendo no hospital, foi de uma garota acompanhada pelos profissionais do Martagão do primeiro ano até os 11.


"Essa moça foi operada muitas vezes por mim, tinha uma doença benigna e o tratamento era contínuo. Conseguimos prolongar e dar uma condição de vida ótima para ela", contou o profissional.


Apesar do esforço, a jovem acabou apresentando complicações e os médicos ficaram "entre a cruz e a espada", pois uma nova operação poderia acarretar complicações, porém, não operar também traria diversos danos a saúde da paciente.


"Por fim, nós operamos, foi uma cirurgia difícil e ela acabou se complicando. A jovem ficou na UTI, de onde veio a óbito", lamentou o médico. Durante o enterro, Carlos revelou que esteve presente junto a família e acabou consolado pela mãe da jovem.


"O que mais me marcou em tudo isso, foi quando a mãe se recompôs e veio me procurar para me confortar. Me disse para não ficar triste, pois, de alguma maneira, ela e a filha sabiam que fizemos tudo para dar certo. Me deixou chocado a grandeza dessa mãe, que mesmo em meio ao luto, se preocupou com o médio que havia tentado salvar a vida de sua filha", explicou.


À esquerda, o superintendente da Liga Álvaro Bahia, Carlos Emanuel Melo

CONTINUAR TRANSFORMANDO VIDAS 


O Martagão Gesteira transforma a vida das pessoas que trabalham e conhecem o projeto, mas garante principalmente o direito primordial as crianças, o da vida. Para ajudar o projeto, doações de qualquer valor são aceitas pela instituição e podem ser feitas através do site.


Esta reportagem é a 11ª de uma série do Aratu On sobre os 15 vencedores do prêmio “O Bem Transforma”, homenagem da TV Aratu para pessoas e instituições que contribuem para a construção de uma Bahia melhor. A cerimônia de entrega dos prêmios foi realizada no dia 30 de outubro. 
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