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Autismo: conheça histórias do transtorno que muitos têm, poucos conhecem e quase ninguém entende

Wallace, é um garoto de cabelos pretos e braços finos, possuidor de um sorriso enorme, capaz de conquistar qualquer um, além de possuidor do TEA

Por Mateus Xavier

Autismo: conheça histórias do transtorno que muitos têm, poucos conhecem e quase ninguém entendeArquivo Pessoal / Mateus Xavier

Por volta das 14h de uma sexta-feira, em um dos vagões do metrô de Salvador, uma criança chamou a minha atenção por gritar, balançar os braços e ter um cordão xadrez colorido no pescoço. Ela era o pequeno Wallace de Freitas, de apenas quatro anos, mais uma das diversas pessoas com o Transtorno de Espectro Autista (TEA).


Wallace, um garoto de cabelos pretos e braços finos, é possuidor de um sorriso enorme, capaz de conquistar qualquer um. Além das características físicas, o jovem morador de Salvador também conta com algumas ainda mais evidentes. Tem a fala embolada, movimentos, por vezes, agressivos e prefere brincar sozinho.


Em 2021, essas características acenderam o sinal de alerta de sua mãe, Jéssica de Freitas, de 31 anos, que sempre acreditou que aquilo não passaria de uma fase. “Uma vez, em vez de ir brincar com as crianças, ele parou em frente a um jardim e começou a gesticular e falar com as plantas.”, ressaltou ela.


Mesmo com diversos indícios, Jéssica nunca soube que aquilo era o que popularmente se chama de autismo, por nunca tinha ouvido da condição. Foi durante a tarde do dia dois de abril de 2021, quando ela assistiu a uma propaganda de conscientização sobre o Dia Mundial do Autista, que percebeu alguns sintomas de que, talvez, a timidez de Wallace não fosse apenas um “jeitinho”.



“Na verdade, eu não conhecia o autismo. Ele rejeitava mama, era bem quieto. Já existiam vários sinais, mas eu não sabia ver. As pessoas falavam 'mãe', você não acha ele diferente?' — e eu respondia, claro que não!”, contou Jéssica.


O QUE É O AUTISMO


O TEA é uma condição que afeta principalmente o desenvolvimento neurológico do cérebro do paciente, podendo prejudicar diversas áreas, entre eles: interação social e atividades motoras.


Especialista na área, a psicóloga Ticiana Accioly afirma que os primeiros sintomas aparecem antes dos três anos. “Sempre até os três. As falas confusas, dificuldade de se expressar, balanço constante dos braços, andar nas pontas dos pés. Nenhum desses sintomas é 100% conclusivo, mas indicam um possível TEA”.



Ainda conforme Ticiana, caso a família perceba um dos sinais, deve procurar um neuropediatra, ou o pediatra comum da criança, que ajudará no diagnóstico e no encaminhamento para o tratamento correto.


No transtorno, existem três graus, em que o um é o mais leve, e o três o mais “pesado”. “Esses níveis são divididos com base no grau de dependência do paciente, quão dependente essa pessoa vai ser do tratamento contra o autismo”, explica. “Quanto mais cedo diagnosticado, maior será a resposta ao atendimento desse paciente”.


AUTISTAS TÊM DIREITO A LUGAR PREFERENCIAL?


Desde 2015, por meio do decreto municipal n.º 25.966, de 17 de abril, ficou assegurado perante o Regulamento Operacional do Serviço Público de Transporte Coletivo de Passageiros por Ônibus (STCO), sendo obrigação de todo passageiro dos ônibus de Salvador ceder os lugares preferenciais para pessoas com deficiência mental e físico motora, idosos e gestantes.



Porém, Jéssica nos mostra que nem sempre é assim. “Nos transportes, ele não aceita ir em pé, e nem todo mundo respeita. As pessoas já disseram que eu estava mentindo, que ele parecia 'normal'. Muitos olhares tortos em filas, já passei noites chorando por isso”, relatou, emocionada.


QUAL O SÍMBOLO QUE DÁ DIREITO?


Muitos conhecem a simbologia que identifica locais para grávidas, idosos, e deficientes motores, porém, poucos sabem o que significa o laço com estampa de um quebra-cabeça colorido. Nos trens do metrô de Salvador, segundo a CCR Metrô Bahia, a plotagem do símbolo terminou em 2022. “Além do selo, presente em todos os trens, também convidamos diversas pessoas com o transtorno para conhecer os trens, e passear na cabine”, completou, em nota, a assessoria.



O laço ainda pode ser visto em estabelecimentos da capital, como o Salvador Shopping, onde há vagas adaptadas e destinadas a pessoas com o TEA. Para ter acesso a elas, a pessoa com o diagnóstico positivo deve pedir sua carteirinha de comprovação junto à Superintendência de Trânsito do Salvador (Transalvador). Para isso, é preciso comparecer à sede do órgão portando identidade, relatório médico e comprovante de residência.


VOCÊ PODE SER AUTISTA SEM SABER


Outra situação comum no transtorno é o diagnóstico tardio. Como aponta Ticiana, pessoas mais velhas podem sofrer sem saber. “O grau um, por ser leve, algumas crianças têm apenas dificuldades sociais, o que pode maquiar a existência da condição. Mais tarde, muitos problemas vividos quando crianças, ou adolescentes são solucionados pelo diagnóstico”, afirmou a especialista.


Esse foi o caso de Rodrigo Oliveira, de 29 anos. Formado em direito, o jovem sofreu desde 2016 com diagnósticos errôneos em relação às suas dificuldades do dia a dia, e chegou a ser diagnosticado com depressão. “Em 2022, após trocar de médico, fui diagnosticado com grau um. Sinceramente? Foi um grande alívio saber o que tenho”.


ONDE ENCONTRAR TRATAMENTO EM SALVADOR?


Em Salvador, segundo a Secretaria Municipal da Saúde (SMS), existem diversos pontos de atendimento e suportes para pessoas com o TEA. Entre eles, o principal é o Centro de Referência Estadual para Pessoas com Transtorno do Espectro Autista (CRE-TEA), que funciona de segunda a sexta no Campo Grande.


Confira lista completa de pontos de suporte ou atendimento:


Centro de Referência Estadual para Pessoas com Transtorno do Espectro Autista (CRE-TEA); Centro Especializado em Reabilitação (CER) tipo IV das Obras Sociais Irmã Dulce (OSID) e tipo II Centro de Prevenção (CEPRED) ambos sob gestão estadual e os CERs tipo II sob gestão municipal: APAE Coutos; NACPC e IBR.



Além destes, há dois serviços contratados pelo município que dispõem deste atendimento: o Instituto de Organização Neurológica (ION) e o Centro de Reabilitação da Ribeira (Antigo Instituto Pestalozzi de Reabilitação).


Em nota, o Governo do Estado informou que o atendimento deve ser feito nos centros de unidades municipais, e que mantém espaços em todo o estado, por exemplo, o CRE-TEA, localizado na Praça Dois de Julho, no Largo do Campo Grande, mantido em parceria com a Liga Álvaro da Bahia.


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