Cultura

Dado como perdido, documentário sobre rio Amazonas será exibido em Salvador

A obra permaneceu perdida durante décadas - possivelmente, por ter sido erroneamente catalogada como uma produção norte-americana de 1925

Por Da Redação

Dado como perdido, documentário sobre rio Amazonas será exibido em SalvadorIlustrativa

No próximo dia 10 de março, às 10h30, será exibido no Cine Glauber Rocha o filme recém-descoberto Amazonas, o maior rio do mundo, com música ao vivo do Quarteto de Flautas de Bahia. Filmado em 1918 pelo cineasta e fotógrafo luso-brasileiro Silvino Santos (1886-1970), o documentário é considerado o primeiro longa-metragem feito na Amazônia, que foi dado como perdido desde a década de 1930, e reencontrado somente no ano passado no Arquivo Nacional de Cinema da República Tcheca, em Praga.


Silvino Santos entrou na história do cinema brasileiro com o documentário No País das Amazonas (1922) sendo considerado como um dos maiores realizadores de não-ficção do país. O próprio cineasta, como parte de suas memórias, deixou uma informação importante para que Amazonas, o maior rio do mundo fosse reencontrado: Propércio de Mello Saraiva, seu colega de equipe, teria mudado o título do filme se passando como diretor do longa e negociando sua venda internacional, antes de todos os materiais do filme se perderem pela Europa.


A obra permaneceu perdida durante décadas - possivelmente por ter sido erroneamente catalogada como uma produção norte-americana de 1925 - e só foi reencontrada após o exame de internegativos duplicados de uma cópia em nitrato de celulose.


Após a confirmação da autenticidade pela Cinemateca Brasileira, o filme teve estreia mundial na Giornate del Cinema Muto (Festival de Cinema Mudo de Pordenone), na Itália, um dos principais eventos dedicados ao cinema silencioso da Europa e a primeira exibição no Brasil ocorreu em novembro de 2023 na Cinemateca Brasileira, em São Paulo. Desde então, o filme tem circulado em diversas capitais brasileiras – João Pessoa (01/12), Rio de Janeiro (07/12), Fortaleza (22/12), Manaus (29/12) – e agora finalmente chega a Salvador-BA permitindo ao público baiano conhecer um pouco mais sobre a própria história do cinema brasileiro.


Por ser tratar de um filme originalmente silencioso, um grande momento da sessão é a música ao vivo com o Quarteto de Flautas de Bahia. Formado pelos flautistas Lucas Robatto, João Liberato, Leandro Oliveira e Rafael Dias, o grupo tem o objetivo de contribuir com o fortalecimento da cultura da flauta transversal e é responsável pela composição e execução de uma peça musical durante a exibição do filme.


Com um repertório constituído por peças do universo erudito e popular, a participação ao vivo do Quarteto é uma experiência que traz à memória toda a magia e encanto dos primórdios do cinema, quando os filmes eram silenciosos e as projeções eram acompanhadas por instrumentos ao vivo.


A sessão é uma iniciativa conjunta de dois cineclubes de Salvador – o Cineclube Nanook, ligado ao grupo de pesquisa Laboratório de Análise Fílmica (LAF), da UFBA, e o Cineclube Glauber Rocha, do Cine Glauber Rocha – e a realização tem o apoio da Cinemateca Brasileira, responsável pelos direitos de exibição do filme, e do Quarteto de Flautas de Bahia, responsável pelo acompanhamento musical durante a exibição. O ingresso terá custo de 10 reais, sujeita à lotação do espaço.


MÚSICA E CINEMA


Essa não é a primeira vez que o LAF propõe uma exibição de filmes com som ao vivo. Em 2012, o grupo realizou o seminário internacional Ouvir o documentário: vozes, música, ruídos e como parte da programação do evento foi exibido o documentário Nanook of the North (1922), acompanhado de uma música ao vivo composta por um conjunto de cordas, madeiras e percussão sob a regência do professor Guilherme Maia, um dos coordenadores do grupo de pesquisa.


Após a sessão, o público será convidado a conhecer um pouco mais sobre o contexto de criação do filme e qual o significado histórico desses registros documentais para os dias de hoje. Os comentários ficam por conta de Francisco Gabriel Rêgo, professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) especialista em documentários indígenas e Laura Bezerra, professora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), especialista em memória e preservação no audiovisual.


A mediação será por conta de Adolfo Gomes, crítico e coordenador do Cineclube Glauber Rocha e Morgana Gama, pesquisadora integrante do Cineclube Nanook (LAF/Póscom).


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